orfeu é o rosto do poema, que
lentamente se aproxima do negrume
(porque) há uma treva que fulgura
entre as palavras
ícaro alça o braço, e toca as estrelas,
esse metal fundente do olhar
disposto sobre o domínio erótico da mão
o poema é,
para que se opere a combustão do olhar
na carne,
o poema é,
para que se abra um rosto
no fulcro da visão,
porém, na verdade, um rosto é impensável,
e o poema não pode olhar para trás,
incêndios ladeiam cada braço
não há quem possa existir num poema,
ele é sempre o corpo imponderável,
a distância entre a queda de orfeu
e o voo de ícaro sobre o cume das sombras
em combustão,
ele é o rosto unânime do flagelo,
e é eurídice envolta pela seda ardente
do coração, e é o verbo sempre oculto pelo que revela
e, é este texto que é luciferino, que é o rosto velado
da esfinge, o rosto que incessantemente
se aproxima do negrume sem nunca se afastar
do dia
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
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