sábado, 8 de novembro de 2008

«la vraie vie est absente»

1

pelos fins de tarde escreve-se

sempre o silêncio

como antecipação da voz


a voz verdadeira está ausente


2

uma metáfora é tantas vezes nada

mais que um modo de pressentir tudo

o que não pode ser dito


não há voz
para todos os nomes

e não tenho como pôr
o meu pensamento em cima
desta mesa

3

e nas imagens, eis que deve ser visto:

a voz posta em abismo, ou

um modo ocluso de saber explicitar

"o equilíbrio do sol"


toda a paisagem
é uma coisa animal

sem nome


4

eis a imagem: a voz sem ninguém

de um nome que se apaixonou

pela mão que o escreve


desde o súbito estremecimento do pulso

à raiz de sal do silêncio feito olhar

não há outro caminho
que aquele que atravessa as salinas
para quem que escolheu
o silêncio como lugar

5

fossem as razões do mundo

as razões do poema,

e seria eu o vento atravessando

a lírica carne de dafne feita paisagem,

seria eu a salgar-lhe os lábios

diante do pressentimento do oráculo

tens apenas este poema
que é como que

o silêncio à distância
do espelho

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