1
pelos fins de tarde escreve-se
sempre o silêncio
como antecipação da voz
a voz verdadeira está ausente
2
uma metáfora é tantas vezes nada
mais que um modo de pressentir tudo
o que não pode ser dito
não há voz
para todos os nomes
e não tenho como pôr
o meu pensamento em cima
desta mesa
3
e nas imagens, eis que deve ser visto:
a voz posta em abismo, ou
um modo ocluso de saber explicitar
"o equilíbrio do sol"
toda a paisagem
é uma coisa animal
sem nome
4
eis a imagem: a voz sem ninguém
de um nome que se apaixonou
pela mão que o escreve
desde o súbito estremecimento do pulso
à raiz de sal do silêncio feito olhar
não há outro caminho
que aquele que atravessa as salinas
para quem que escolheu
o silêncio como lugar
5
fossem as razões do mundo
as razões do poema,
e seria eu o vento atravessando
a lírica carne de dafne feita paisagem,
seria eu a salgar-lhe os lábios
diante do pressentimento do oráculo
tens apenas este poema
que é como que
o silêncio à distância
do espelho
sábado, 8 de novembro de 2008
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