I
nunca soube o que fazer com um poema
o excesso de sentido mina a pele
por dentro das raízes
atravessando o mármore
é desse não saber que são feitos
os desejos os mortos
os olhos dos vivos
e todas as paisagens sem nome
II
o vocabulário é o sangue
todo desconjuntado
transmutado em objectos,
que não são mais que
ausências viradas do avesso
um sentimento sempre tardio
e escreve-se tantas vezes
para dizer o que se diz
porque não se consegue dizer
o que se diria se se dissesse
III
não há quem escreva sobre o mármore
a sintaxe dos pássaros
quarteto e cordas para o fim dos tempos
e é verdade que entre um poema
e outro poema há
um messias que chega e outro que parte
e a estória é sempre a mesma, há
uma voz que diz «vem», contorna
os espelhos,
desequilibra-te só de respirares
IV
entre os dedos não tenho mais
do que imagens do fim
do mundo
soberbas vertigens minerais
umas poucas greias desgrenhadas
e eólicas medusas tardias
soubesse eu como entrar pedra adentro
para encontrar os meus olhos
e creio que poema saberia o que fazer comigo
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
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