domingo, 14 de dezembro de 2008

projecto

o nome e o lume

I


1

sob o vértice da rosa beberás

o solícito fruto do lume

a semente dos leitos de todos rios,


de todos os nomes,

(serás a pele e a queda)


crescerás, criarás (a) genealogia,

e debruçar-te-ás sobre o espaço


do verbo que antecede o princípio;

beberás lâminas e noites, e encantar-te-ás

no conclave das falanges predispostas

sobre o branco, ampliarás


o perímetro da mão avançando por dentro da sombra


hás-de esculpir auroras rente ao peito, e amarás

espelhos de espelhos;

mas compreenderás que a veia há-de florir

no delta das córneas a prumo sobre o branco, e amarás

essa secretíssima carne de mármore dobrada

sobre o teu nascimento


2

saberás, poeta, que um corpo pode ser um rio

subindo a prumo, e as estações, mulheres

que mudam de vestidos consoante a inclinação do sol, ou rosas

que manobram os astrolábios da canção nos solstícios

e fazem parar os rios, os rios

que são nomes minerais


os meridianos todos

convocados sobre o coração, e o idioma

do mar entre a sombra das casas



3

saberás, poeta, por fim,

que o poema é a carne toda junta, a carne


um fruto que se partilha,

porque é o sal e o coração: o poema

e porque, às mulheres, hás-de beijá-las e renascer

e semeá-las, rasas como a cal, na vindima das imagens


hás-de amá-las e morrer (raso)

como as rosas caídas de um azul céu de nomes;

há-de ser o teu mundo o seres raso

como a água;


e, como as pedras hás-de perecer e ficar,

hás-de beijá-las para morrer,

amá-las e morrer, e

pouco mais

(isto apenas é uma elegia enquanto os grandes incêndios grassam
através das mais entusiastas telas
reanascentistas)

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