sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

as águas

as águas confluem na melodia, se a ave
reúne os ventos e os caudais da veia,

mas se sorris, as aves abrem-se
em diademas, a perifrástica massa
cutânea dos poentes exaltando
a pupila inundada de valquírias aos gritos

o poente: a carne atada ao estame que atravessa
os ombros de deus e o umbigo dos navios
e as gengivas da criança


e, se vens, se chegas todas as rosas, todas as aves, conjuram
a expedita lonjura dos presságios:
deus pe(n)sando a carne dos homens nas praças ensolaradas

(dos presságios) baldios onde
te encontro aberta em diademas, dentro do sono perpétuo das aves mortas
no êxtase da migração,
onde te encontro, aberta em diademas pisados
dos ecos que soçobraram da cegueira dos aguaceiros
e dos cismos dessas agulhas sobre a pele furando
(o que leva a mulher, uma mulher a tocar piano e
comer laranjas à chuva?)
a diegese do fruto, que convocaria as evidências aos meus braços
rodeando os prodígios, se

uma casa pudesse florir como uma mulher alongando-se branca
rósea, hera das horas florais do canto, praia eninfada de crianças,
violino enlouquecendo os cavalos
dentro do vestido, ou
como a agulha furando o tímpano e o estame passando, furando
as águas, se

as mulheres se costuram pelos lábios às evidências da ave aberta
em diademas, no voo, aos derradeiros paroxismos e à
paramnésia do âmbar que
se forma entre os joelhos da mulher: lugar de todos os ritos

e depois

a pálpebra rutilante do deus, parábola do fruto sobre as águas,
argila de boca, aberta, se a melodia a insufla
de vertigens e transmigrações:

se a mulher, por fim, canta
perde, derradeiramente as feições
inunda-se de água,

cada mulher tem o seu dilúvio privado,

começa rente ao tornozelo

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