segunda-feira, 9 de março de 2009

caminhos

segue-se por um caminho
ladeado de extremo a extremo
pelo odor do verão
pelo rumor das florestas nocturnas

e dentro do contorno que nunca excede
o movimento

a palavra proferida diante de uma lâmpada

de seda ou
de quartzo

as palavras permitem ver através
do trilho do perfume

eurídice em dias de vento
diante dos lençóis estendidos
nas ladeiras

atravessadas pelos caminhos dos homens
pelo aroma dos frutos, pelo odor do pão acabado de nascer,

as palavras misturam o mosto
a substância dos cereais
no fundo dos silos

segue-se pelo caminho
que vai do odor à raiz
da fonte à estrela
da pele ao perfume
da semente ao lume

segue-se ladeado
pelo aroma dos cereais
acabados de ceifar
e pensa-se

o que dizer da beleza que tornou possível
tudo isto?
o que fazer
com isto que tanta beleza contém?


diz-se por fim que as palavras são caminhos
que atravessam a (aparente) imobilidade
das paisagens

erguidos corredores de água ladeados de borboletas
a pedra o seixo rubro dentro da memória
todo o secreto mundo do sonho
que se aproxima da pele dos homens
adormecidos dentro dos silos do verão

um nome
a cova dentro da estrela agora em movimento
a voz sempre procurada entre os escombros
dos roseirais depois de o verão haver passado
pelo mundo

eurídice dentro do movimento do sangue
para que o sabor tenha sentido

caminhos são tão-só o rumor
de passos sobre a brancura

o leito em que sou rio
e vou

1 comentário:

Maria disse...

Que lindo caminho este :)

***