quarta-feira, 5 de março de 2008

e pensar

e pensar que haverá uma voz
cor de vento
que diga um amanhecer
de janelas
sobre a sombra perecível do desejo

e pensar que haverá um mão de ouro
coada pelos teus olhos
que me tocaria levíssimamente
no cabelo mesmo acima da têmpora

e pensar como se me houvesses dito
o último segredo do mundo, justamente
quando as violetas (que são impossíveis)
entram em flor
entre o umbral dos (meus) ombros

e pensar, h., que há casas,
onde o espírito pode
provar o pão e o sabor,
sem que a sombra se
enrede nas veias das mãos
e não mais posssamos abrir
a secreta porta da permanência

e pensar que sou um homem
com a vida cerrada, vestida até ao peito,
um homem que nem as mãos consegue despir;
e pensar que dissesse que te amo
tão só para achar belas as folhas
das árvolres cair num outono
de jardins vazios

e pensar que tenho duas mãos
(uma das quais com qual nunca te toco);
uma das quais com a qual
nunca toquei ninguém,
uma das quais com a qual
nunca toquei nada;
e pensar que tenho essas duas mãos
que são tão-somente furtos sem cheiro;

e pensar que tenho dois olhos,
e com nenhum vejo,
com nenhum choro.

e pensar pensar que se perde
assim a vida "par delicatesse"
a pensar coisas que não se devem
pensar;

e houvesse eu de nada pensar,
de ser tão só uma mão cruzada sobre a outra,
tão só pétala de ar num riso de janela,
ou o teu gesto de penteares aquela lágrima
que eu te fiz chorar por pensar
(as) coisas que te digo.

ah, ccsário, pudesse eu dizer
que sou um homem
que sabe de cor os nomes
dos pássaros e dos frutos, o aorma de cada rio,
e todas as notas musicais do coração
por coração


ruy narval

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