"o último poema"
(agora) sou um modo de inclinar
a mão (que alinhava o vento aos lábios)
sobre a brancura
sou uma forma de saborear a leveza
dos venenos rente ao pulso ígneo
sou muros de lume em redor
das veias do pescoço,
sou tudo aquilo que o verso divide
e reparte (sem poder dizer mais nada)
sou a rectidão oblícua da penumbra
das casas, uma voz que nada toca
e sou de arame sempre que me tocas
a pálpebra, e me ofereces frutos
e me ensinas depois
a arborização da seda através
das corolas solares atravessando
os olhos feitos de água negra
(agora sou) o resultado de saber
que, uma vez ditos, os nomes
são máquinas de produzir olvido:
a forma de um rosto se inclinar sobre
os naufrágios da noite, e saborear
o gosto do lume dobrando-se dentro
das sementes
(agora) inertes num chão de cinza (as palavras),
sou finalmente
a forma como a sombra se inclina sobre
os olhos (quando me olhavas a partir de mim)
sou nada mais que um esquecimento
de pálpebras
e toda a minha voz rasa
volteando em torno
da pergunta fatal
(que fazer com os teus olhos neste poema?)
sexta-feira, 21 de março de 2008
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