sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

primeiro poema escrito a seguir à trágica perda perda do moleskine no Bairro (se souberem de algo, devolvam-mo, hein

nas cúpulas acende-se o voo,
enquanto o vento leva a primavera à exaustão,
e no perímetro das ancas da mulher, que baila, se

congemina a metálica combustão
das mãos e das bocas,

no pleno centro da dança:

é aí que o poema germina

da breve volúpia das carnes em flor
nas cúpulas, onde
o silêncio habilita a boca a

a um fulgor inaudito,

e um ventre amadurece como um fruto
e as mulheres aumentam dentro dos vestidos,

e dentro dos braços dos homens
os lábios rodeados de uma elipse de água,

se
as águas cantam a desmantelada volúpia de um corpo
de uma carne que não se conhece

e, o poema robustece-se na avidez de um peito e de um ventre
entregues ao olvido
da veia atada à brancura da cal
e ao caule do lume de
uma boca aberta sob a fecundidade
encantada e o luto ardido das cópulas dos amantes
escondidos dentro das ânforas

em dias de chuva,

é aí que o poema germina
é aí que o lume grassa (s)e as mãos se encantam

2 comentários:

ana salomé disse...

este poema é tão, mas tão bom, luís.

ontem perdeste o teu moleskine?...não posso crer.

Luís Felício «Brot und Wein» disse...

obrigado, sim, perdi um moleskine, mas já foi há 3 anos, no bairro, aquele foi o primeiro poema que escrevi no caderno que inaugurei no dia seguinte.

é um pouco assim, mas mais exactamente... que quero voltar, ou continuar a escrever.

ontem descobri um caderno na gaveta que pensei já haver passado a computador, mas não! e é excelente:) muito bons, os poemas, *