domingo, 18 de janeiro de 2009

ravel, quarteto de cordas III

é no princípio que o fim
tem todo o seu começo

clave após clave, o sol
radiante sob a primavera
dos dedos

e a erva que cresce no espaço
que medeia
a sombra dos pianos
semeados na planície
circundada pelos laranjais de maio

depois vem o verão,
e os cravos são lentíssimos
anjos despenhados nas crateras do vento, clareiras

é nas tardes quentes que melhor
leio tudo o que não se pode ler
com a flor da laranjeira junto aos lábios
e a pele toda erguida na melodia do ar, lá
onde os violinos fecundam os cardos

lá onde o poema é só eu
e toda a melancolia das árvores

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