quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

amarro a palavra, comovo-lhe as coisas

destino-a a ao ouro ou ao sal

dobro-lhe os rios por dentro, e desato-a,

já que nenhum deus se debruça das varandas

e acende o aroma das esmeraldas na boca das mães.


sei tudo. cores. perfumes. texturas. aromas;

sei o tacto intacto das coisas. nos espaços.

abro a boca à combustão (oblíqua) das coisas nos nomes.

treino-me na arte de fazer passar (coar)

(os) nomes através de paredes de vidro

através de muros de cal


acendo esmeraldas. eu. constranjo, comovo

as casas e as mulheres. cada objecto seria/ é

uma poética inteira, limpa.

às palavras, lavo-as com alfazema

e elevo-as ao ouro, à neve.

e o poema, geometria da argila desenhada

à semelhança da pétala do pássaro,

segue a sentença da esmeralda,

inaugurado pela boca habilitada ao sopro

e ao toque. o poema sabe tudo. é

as coisas todas, o céu desatado sobre

os quadris da fêmea, os rios

desaguando nos olhos de deus. deus, aquele

que paira, aquele que fica sobre a penumbra

de todas as coisas. e o poema, o corpo verídico

de tudo, exposto ao fado da jóia, ao salitre

do canto que comove as paredes,

e que opera a confluência do negrume

no realejo da jóia, onde amarro a palavra.


que um nome é visceral, e o canto expõe-se

à eólica profusão da carne, define os contornos

da epiderme aliciada às imagens,

ao encanto solicitado no aprumo com que

as mulheres comovem os objectos,

e são glicínias pulsando em torno

de um círculo de sal.


saber comover a palavra perante a velocidade

parada do espelho até à maior exaustão dos nomes,

e saber tudo, olhar a paisagem que sobeja

e saber-se completo. saber-se de metal, ionizar-se

na forma como o espelho martela as evidências

Sem comentários: