amarro a palavra, comovo-lhe as coisas
destino-a a ao ouro ou ao sal
dobro-lhe os rios por dentro, e desato-a,
já que nenhum deus se debruça das varandas
e acende o aroma das esmeraldas na boca das mães.
sei tudo. cores. perfumes. texturas. aromas;
sei o tacto intacto das coisas. nos espaços.
abro a boca à combustão (oblíqua) das coisas nos nomes.
treino-me na arte de fazer passar (coar)
(os) nomes através de paredes de vidro
através de muros de cal
acendo esmeraldas. eu. constranjo, comovo
as casas e as mulheres. cada objecto seria/ é
uma poética inteira, limpa.
às palavras, lavo-as com alfazema
e elevo-as ao ouro, à neve.
e o poema, geometria da argila desenhada
à semelhança da pétala do pássaro,
segue a sentença da esmeralda,
inaugurado pela boca habilitada ao sopro
e ao toque. o poema sabe tudo. é
as coisas todas, o céu desatado sobre
os quadris da fêmea, os rios
desaguando nos olhos de deus. deus, aquele
que paira, aquele que fica sobre a penumbra
de todas as coisas. e o poema, o corpo verídico
de tudo, exposto ao fado da jóia, ao salitre
do canto que comove as paredes,
e que opera a confluência do negrume
no realejo da jóia, onde amarro a palavra.
que um nome é visceral, e o canto expõe-se
à eólica profusão da carne, define os contornos
da epiderme aliciada às imagens,
ao encanto solicitado no aprumo com que
as mulheres comovem os objectos,
e são glicínias pulsando em torno
de um círculo de sal.
saber comover a palavra perante a velocidade
parada do espelho até à maior exaustão dos nomes,
e saber tudo, olhar a paisagem que sobeja
e saber-se completo. saber-se de metal, ionizar-se
na forma como o espelho martela as evidências
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário