I- a génese do poema
1
nascer de um nome.
é como atravessar espelhos,
e suspender-se sobre o vácuo. sem centro.
é não ver os objectos
é a sombra do cisne
diante da brancura, com a flor
da papoila junto aos olhos
e o olhar cérceo à secreta flor do mármore
imaculando cada objecto
é a pálpebra sobre o círculo, incitando
o astro-lábio: nascer
a força de querer
uma palavra
que tenha as suas brancas raízes
no meu verídico coração de sal
2
nascer: eros e logos, carne e verbo,
terra e ar, plasma e mármore: o poema
a forma velada do prodígio
no sucinto tempero do lábio (mas para quê?),
e o olhar erguido diante da última elipse
dos espelhos fazendo sombra ao coração
3
nascer. outra vez.
são as árvores aos gritos
na meia-noite do meu ventre,
e é uma lentíssima melodia que sobe
(já vi isto outra vez): a sombra do mar
entre as casas e a cabeça sobre o vácuo,
e o sangue em movimento
perpétuo, nos pêndulos da memória,
que fica branca pelo desmedido exercício da palavra
4
nasço: estendo a minha bandeira escarlate
sobre as paisagens do mundo,
e tento dizer a palavra que (me) falta,
que é quiçá a palavra que sempre faltará
já não vejo um único objecto,
e nada posso nomear.
anoitece sobre o meu nome,
que já não profiro, de frente para o espelho
o vento sopra. nada nomeia
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
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