domingo, 15 de fevereiro de 2009

tom apocalíptico bastante elíptico

um poema é uma amante ciência sonora,
o esboçar
de uma apuradíssima silhueta de ânfora,
ou mulher,

o vermelho perímetro
das ancas da fêmea

se/enquanto, na têmpora se prolonga
a ressaca do tambor,

cada palavra é uma fina cerâmica sonora,e

deus sopra e acende a veia,

é o som distendendo
a escuta e
os olhos abertos na cópula
da lâmina e da virilha acesa

e o poema, o poema enuncia a sigilosa brancura
de um recomeço,
o olhar incompleto sobre a boca da(s) ânfora(s),
congeminando a vogal da veia,
que incendiará
a cabeça no rubro tumulto da dança,
e deus sopra, irradiam-se os movimentos

porque sou um poeta, segredo (e observo)
ao contorno da lâmina
as confidências do pulso
a inevitabilidade do sangue e do olhar parado sobre
os corpos e as coisas,

e observo o metálico róseo olhar do deus abrindo,
as rosas e as mães, por dentro,
os espaços e os frutos,
e vendo escurecerem-se-te as madeixas dos cabelos, se choras,

(e) o poema é um grito entre
a desmesura do inominável,
e a perenidade da madeira
insonorizando o som
(nos peitos das mulheres),

as palavras são ápodes à sua maneira
e a água nunca canta sozinha, e

o poema é, também, a água turva do teu peito,
o machado de
(um) deus sobre as coisas

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