quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

poema de amor (tentativa falhada)

(ouve-me)

falar-te-ei dos búzios,

o limiar da voz
quero que ouças

dir-te-ei (os búzios) janelas abertas,
frutos: a porta redonda da permanência

veias abertas, frutos
lírios com o mar dentro
oráculos são, e a minha mão aberta, sempre
à tangente da distância

se os indagas, espelhos com sóis dentro
são o tímpano atento
ao decurso da eternidade, (e) podem ser
a verdade, amêndoa de âmbar azul
acesa entre os joelhos, ou todo um dúctil sossego

sob doçura da pálpebra
búzio nome sinovial
búzio distendido poro de mulher

para respirar a bênção das marés
e o mar, ventre de vento, ou
o amparo lento para a queda vertical dos frutos

búzio, conclave melódico da raiz da fêmea
arrebatada pelo clarão dos promontórios
búzio, lugar único da ascese dos líquidos
harpa janela aberta,
para a germinação atenta das águas
búzio, lonjura melódica
distância equidistante da semente à corola,
lugar da respiração limpa e da sede inteira,
casa onde a escuta se recolhe,
para ouvir o deus, o rumor do sal, ou
a morte ascendente de certos nomes

búzio sempre
voz perpendicular ao aroma
das marés
e à vertigem do movimento

(e sempre o amor, diante do mar
sombra de pássaro repentino
sobre o lábio cantante;
como felicidade, resta-me a confidência,
e o impossível espaço e a
paradoxal alegria das imagens)

búzio imagem tímpano seda
furor melódico lira e pão

(ouves-me?
as imagens como expressão tão-só
do movimento do idioma)

e na coincidência de gesto e movimento
a voz sempre como incidência da beleza e do crime

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