sexta-feira, 22 de maio de 2009

como em bach, também assim no amor

música, bach:

um carpinteiro
esculpindo anjos de perfil
numa pauta de in-verso/inverno

(quem escreve, é também como se
assistisse ao súbito contágio melódico
das síladas inventadas tão-só para deleite das mãos)

louco de pianos
semeado pela boca
às teclas

tudo se aprende apenas por deleite

como uma levíssima criança silábica

pedem-se emprestadas as bocas
outrora, e para sempre, dos outros
enlevadas no ritmo

bocas (com) que

é preciso atravessar

esse calor inteiro
essa combustão
nas grutas

e isto faz-se assim

umas vezes ou
meta- ou
outras vezes por dentro

isto faz-se sempre por onde o perfume
mais abrasa a língua

nunca houve outra forma
de escalar a infância
senão pelo som

diria o outro: isto faz-se por música

e, não fosse antes já o som enredado nos pés,
isto far-se-ia assim levissimamente

não fosse absolutamente necessário

chegar ao fim do caminho para
começar

como em bach, também assim no amor

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