diante do mar
antevejo as planícies místicas de outubro,
quando o vento trás o travo das gaivotas
à boca semeada das papoilas da primavera
é verdade, há um caminho secreto que conduz,
através dos verdes campos de maio,
à casa que, regada do incêndio do verão
mostra em outubro que, depois da bucólica infância
das imagens, vem sempre o espaço do poema:
o olhar que distende o movimento da mão conduz
à casa a casa a casa a casa
a conciliação dos trabalhos da mão
com o perfume do silêncio
então, antevejo:
o poema é a mão que corrige o olho,
que antecipa a eternidade
sou o caminho dessa mão
que antevê o cálculo
do marinheiro que manobra
o astrolábio da canção
essa mão é todo o corpo do poema
a mão que distende o travo das manhãs pela paisagem
e mantém sempre todo o silêncio junto ao peito,
a mão que escreve as marés as marés as marés
e trás a lua a lua a lua para o olho,
e trás a lua condenada pela carne e pelo sal
à degustação das parábolas
entretanto,
o gosto progride, como um segredo
a mão promove uma lenta infância que se alarga,
um caminho através do poema, que
não teme a derrocada das casas, que
promove o anseio salubre que
as planícies infundem no rosto da criança
adormecida
sabe-se que
diante do mar, todos os caminhos levam ao silêncio
domingo, 14 de fevereiro de 2010
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5 comentários:
A tua poesia é lindíssima, profunda e luminosa e traz-me conforto e esperança (apesar da evidente melancolia que emana).
Gostava de pegar num poema do Michaux e dedicar-to, mas não me ocorre nada digno. Pelo facto, peço desculpa ter abordado esta questão.
t.
obrigado pelo comentario
Olá Felício, gostei das tuas impressões poéticas, uma hora quando puderes, visita meu blog:
www.albumzutico.blogspot.com
abraços,
Anderson
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