o sangue desconhece o luto da rosa, (e)
o poema realiza a obsessão da veia
a apologia do grito elidindo
as conjunções do coração
o poeta escreve,
com um caule de veia sobre a água, e
arboriza-se,
como as mulheres
na inelutável volúpia do poema
que, um poema não se escreve, é
a argúcia afinada da mão rente
à lâmina, a avidez de fruto do silêncio
sondando o mistério
um poema escreve-se, assim:
arrancando as veias
pétala a
pétala, e
a carne esticando-se na oclusa brancura
do canto; enquanto as mulheres rezam
pelos dilúvios sentadas
no centro dos aguaceiros, e
o sangue se
arrepia
nos braços dos homens
sustentando os céus
as mulheres oferecem então os seus ventres para a sustentação
das casas, e, se
no trabalho do poema, a boca é uma casa ou
um barco aos gritos,
o poeta
compenetra-se, numa paciência de geómetra na medição
da altura do grito, procura
o cruel fim da inteligência
uma imagem:
o caule sustentando a criança, de pé
no centro do pulso,
o poema,
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário