quinta-feira, 5 de março de 2009

instantâneo, com muito... dylan à mistura (para o Ramos Rosa)

e que dizer agora
da cabeça que se vê
ladeada pelo movimento
a noite toda
em redor do sangue

"ao sondar o verso percebi que há dois abismos..."

e que dizer do rosto
que dizer de um rosto que se viu

o perímetro do lábio
circunscrito pelos despojos do dia

e um insustentável equilíbrio
de mãos em redor do peito

todo o nome justificado precisamente
por aquilo que não diz

e a voz como uma distância sem centro

"Well, six white horses that you did promise
Were fin'lly delivered down to the penitentiary
But to live outside the law, you must be honest
I know you always say that you agree
But where are you tonight, sweet Marie?"

dir-se-ia agora o nome
que diz o silêncio excedido
pelo seu próprio começo
o rosto que mostra a imagem
finalmente desvelada pela sua mesma ausência

"It ain't no use in callin' out my name, gal
Like you never did before
It ain't no use in callin' out my name, gal
I can't hear you any more
I'm a-thinkin' and a-wond'rin' all the way down the road
I once loved a woman, a child I'm told
I give her my heart but she wanted my soul
But don't think twice, it's all right"

dir-se-ia agora o nome
que diz o silêncio excedido
pelo seu próprio começo, ou

o rosto que mostra a imagem
finalmente desvelada pela sua mesma ausência

(tão só)

um rumor que não contém o perfume


"And the words that are used
For to get the ship confused
Will not be understood as they're spoken.
For the chains of the sea
Will have busted in the night"

depois de todas as palavras esquecidas. sei.
a semente voltará a estremecer
sobre o tímpano das águas

e a palavra certa virá sempre
como uma voz que é um caminho
através da noite
toda ladeada de alfazema como anjos
plantados no contorno das cinzas

sei que haverá sempre no fim de cada poema.
uma felicidade maior que o mundo. dirias. mallarmé.
a rosa (in)conclusa precisamente

por tudo aquilo

Sem comentários: