quinta-feira, 7 de maio de 2009

clair de lune

a lua no eixo do olhar que olha
e anseia por rosas nas clareiras onde
o verbo se amplia, e, na sede, é
a madeira em flor desde os nódulos dos dedos

é o verbo elevando-se na angariação dos ritos
são os altares lavados, os objectos,
cada um e todos santificados, se nomeados

o poema deve abordar directamente
o seu único objecto (tudo)
deve tocá-lo até ao seu húmus, onde
respiram as manhãs sob o conluio das luas

o poema deve pensar-se, digamos,
musicalmente, deve ser
imagem sem imagem: tempo irresoluto, implacável

o corpo irremissível

o mais ínfimo milésimo de segundo:

música de câmara do coração

e
o verbo, que é uma nevralgia em flor
ou a face rubra dos ventos

o poema deve encarnar o epigramático coração
do mito:

e o verbo no vórtice das águas, ou o sol
na fronte de um homem que ri
perante as árvores em flor
no esquecimento de todos os lugares

o que também é o poema

(e) tudo o que o poema não é

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